Faltava pouco mais de 1 hora antes do meu julgamento, me
comunicarão que a juíza Vanessa julgaria meu caso, eu já tomara minha decisão (apenar
de praticamente não haver escolha) mesmo assim eu estava muito preocupado,
quanto tempo ficaria com esse castigo? Como as pessoas me olhariam na rua (isso
se eu tivesse coragem de sair de casa)? E no meu trabalho, o que meus colegas diriam?
Eram muitas perguntas angustiantes, principalmente quando se está peso em uma
cela esperando para ser julgado.
Naquele distrito que eu estava (como nos demais) haviam
sempre poucas pessoas, tirando os policiais – oficiais da lei que vão te
prender caso você jogue uma merda de papel no chão. Naquela tarde havia dois
presos, esse vos fala e um cara gordo sentado perto das barras de aço na cela adjacente
a minha, ele estava tenso também, não muito mais do eu, mas dava para perceber –
talvez ele tenha o mesmo destino, ou ainda está pensando qual opção vai tomar
quando for a julgamento. Me passou uma imagem dele usando aquela pele preta de
borracha no corpo todo, senti pena dele, seria muito mais humilhante por causa
de seu peso avantajado – Devia ter uns 120 quilos no mínimo; estranhamente isso
me deixava feliz, fiquei feliz por não seu o único a receber um castigo tão
cruel (a não ser que ele seja estupido de mais para escolher a penitenciaria –
muito mais a perder). Resolvi puxar assunto com meu companheiro redondo.
- E aí cara, tudo bem?
Ele não falou nada. Tentei novamente.
- Mundo injusto, não é? Porque está aqui? Ele continuou em
silêncio – Não quer falar né? Tudo bem, também estou chateado cara, mas saiba
que você não está sozinho. Agora eu estava falando como um daqueles pastores da
tv, tentando consolar e dar conforto para seu rebanho, mas aqui não tinha
dizimo.
- Meu nome é Br... antes mesmo de conseguir me apresentar um
forte e estrondoso, CALA BOCA AÍ NO FUNDO!!!, veio de um dos guardas de plantão.
O gordo então se levantou – Parecia mais gordo ainda – meio perto da divisória que
separava as celas, me olhou no fundo dos olhos e disse quase sussurrando:
- Meu irmão, a situação tá preta pro seu lado, é bom ficar
de boca fechada.
Quase respondi - o mesmo para ti, “irmão”, só que neste
instante um homem de gravata xadrez entrou no recinto segurando uma pasta,
estava acompanhado por um guarda (não era o mesmo que havia gritado para calar
a boca), ele sorria e anunciava as boas novas.
- Lucas, Lucas, Lucas, meu amigo, consegui!!! Está livre meu
rapaz!
Eu não acreditava no que estava acontecendo, Lucas (o gordo mal-humorado)
estava livre, como assim?
- Vamos seu guarda, abra essa logo
cela, meu cliente não fica aqui nem mais um segundo.
- Fica frio, já vou abrir!
- Em pleno 2037, crimes grau 1
ainda tem que passar por essa palhaçada de detenção policial, e no distrito
mais longe da minha casa. Vou cobrar o combustível viu Lucas, é a terceira vez
que livro sua pele.
Visivelmente irritado o guarda
resmungou.
- Ponto, agora caiam fora os dois!
- E mais uma coisa se o seu
cliente for pego de novo é strike 3 e
garanto que por mais leve que for o delito, na fixa dele vai ter pelo menos um
grau 2, pode apostar!
O gordo estava aqui bem antes de
eu ser atuado pelo policial, possivelmente ouviu os policiais comentarem sobre
o meu crime grau 2. Agora eu sentia em um misto de raiva e medo – Gordo filho
da puta, já sabia sobre meu crime, e eu ainda tentando consola-lo sobre o seu
grau 1, desgraçado! O gordo sai da cela (estava ofegante), olhou para mim deu uma
risada de canto de boca e falou em um tom inaudível, típico para leitura labial.
- SE-FUUU-DE-U!
O advogado me olhou e se aproximou
das grades.
- Eí filho! Olhei para ele com
cara de cachorrinho pidão - não precisa ficar nessa cela, faço um precinho
bacana para você, e antes de anoitecer já estará em casa assistindo tv. Antes
que pudesse implorar pelo seu serviço a realidade me deu um tapa na cara vindo
na velocidade do som que saiam das palavras do guarda.
- Mark fique longe desse aí, ele é
grau 2, daqui apouco é o seu julgamento.
Mark, o advogado, me olhou com
pena.
- Desculpa filho, não sabia, de
qualquer forma boa sorte. Se precisar de um advogado aqui este meu cartão.
- Eu fico com isso Mark, o guarda
puxou-o se sua mão - para onde o garoto vai não tem advogados, graças a Deus.
- Agora vamos, tenho que arquivar
o laudo do Lucas e você tem que assinar de novo aquela papelada.
Os dois saíram, fiquei sozinho,
faltava meia hora para meu julgamento.
Fui levado a um mini tribunal em
forma de círculo com uma cadeira no meio (aonde eu estaria logo mais), fronte a
ela existia um púlpito, local onde o juiz presidia. Do meu lado direito uma
tela grande exibia um resumo de todos os julgamentos que já ocorreram naquele
dia, escrito e em verde, quase todos mostravam CONCLUIDO; todos esses
julgamentos eram de grau alfabético, muito mais branco do que os numéricos (na
maioria eram direito à pensões ou brigas judiciais em geral), o meu era o único
numérico grau 2, (pelo menos era único que estava marcado para acontecer, pois
logo abaixo do meu aparecia um grau 1 escrito CANCELADO – muito provavelmente o
do Lucas).
O pequeno tribunal foi se enchendo
aos poucos, a maioria dos espectadores eram policiais, o policial que havia me
prendido, Igor, estava na primeira fileira do lado de um casal de meia idade (provavelmente
eram seus pais), Igor vestia um terno azul e seu cabelo era ajeitado por mãe,
que com certeza ainda o colocava na cama e dava um beijo de boa noite antes de
dormir.
Fui posto no meu lugar, meus
pulsos doíam por causa da pulseira de contenção (ainda mais apertada do que
quando fui pego). Um oficial anunciou a entrada da juíza Vanessa, ela me olhou
colocou seus óculos e leu meu crime. Então agora estava sendo oferecido minhas
escolhas de punições - 3 meses de prisão (com perda total de meus bens), ou um
mês de ' castigo expositivo ".
Eu estiquei minha cabeça para frente e mesmo sabendo a
resposta perguntei.
- Por favor, senhora juíza, você poderia me dizer o que é castigo expositivo?
Um oficial sussurrou em meu ouvido: "Isso significa que
você tem que usar uma roupa de borracha o tempo todo. E você deve abordar a juíza
como, 'Sua máxima Excelência”. Então respondi com muita tristeza, mas com um
fio de esperança.
-Por favor, vossa máxima Excelência, eu gostaria de receber
o castigo expositivo.
Sem hesitação alguma ela proclamou minha sentença.
- VOCÊ ESTÁ CONDENADO A UM MÊS DE CASTIGO EXPOSITIVO GRAU 3!
Leve-o para sala de preparo!
- Declaro esse julgamento concluído.
Fui levado pelos policiais sob aplausos dos espectadores.
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